terça-feira, 18 de setembro de 2007

Ajudar a quem ajuda...

Há 90 anos, um judeu fugido da Alemanha nazista veio para o Brasil à procura de abrigo e, acima de tudo, liberdade de expressão e respeito. Vivendo em condições de pobreza neste novo país que o acolhera, Elijass Gliksmanis não se conformava com a “riqueza” do lixo produzido por uma cidade como São Paulo. Diferente do que se via nos países em guerra, aqui eram encontrados materiais que poderiam ser reutilizados, tais como: pneus seminovos, aço, fios de eletricidade, móveis usados e assim por diante. O judeu passou a recolher os entulhos nas ruas e vendê-los. Aos poucos, melhorou de vida e abriu uma laminadora de aço, com a qual juntou algum dinheiro.

Seu empreendedorismo começou cedo. Com o crescimento da construção civil no Brasil, Elijass comprou um terreno na Vila Prudente e construiu um pequeno prédio. Com o lucro da obra, levantou novos prédios, até que seu patrimônio financeiro fosse alto o suficiente para fundar a Companhia Imobiliária Ibitirama.

Poderia ser simplesmente mais uma história bonita, na qual um imigrante, com muito trabalho e dedicação, conquista vitórias em nosso país. Mas não é. O ato mais belo deste judeu foi deixar, em seu testamento, 15% de seu patrimônio para a criação de uma entidade beneficente. Surgiu, portanto, em julho de 1987, a Fundação Elijass Gliksmanis, que procura ajudar crianças e adolescentes, tirando-os da rua e ensinando-lhes hábitos saudáveis.

Em busca de melhores condições de saúde e educação para os jovens carentes, a Fundação tem como objetivo central auxiliar financeiramente outras entidades beneficentes. Para isso, é responsável pela doação de alimentos, equipamentos médicos e pela construção de hospitais, centros de saúde, abrigos, creches e assim por diante. “Um dos trabalhos realizados pela Fundação é a melhoria nas condições do espaço físico das entidades, como nas cozinhas das creches, para que tais instituições não sejam fechadas pela Prefeitura por precárias condições das instalações”, conta Maria Marlene Daniel, de 56 anos, secretária do projeto.

A Fundação mantém mensalmente apenas o Instituto de Cegas, na rua da Mooca. Nele, atualmente seis senhoras com deficiência visual são assistidas e recebem alimentação, tratamento e atenção. A pedido da Prefeitura, que iria fechar o local de atendimento a 12 senhoras, o projeto ficou responsável pela instituição sob a condição de não aceitar mais nenhuma deficiente. Hoje, o grupo promove festas e encontros com a comunidade local para a socialização das beneficiadas.

“A intenção do nosso projeto não é criar a nossa própria instituição, mas sim garantir a existência e o bom trabalho de outros projetos sociais”, explica Marlene, que é funcionária da fundação desde que esta foi criada e implantada. Para ela, beneficiar outras entidades é fundamental para o sustento dos assistidos, já que, inúmeras vezes, o apoio da prefeitura é insuficiente.

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