segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Som da Floresta


Quando recebe uma ligação em seu celular, o economista e professor da Universidade de São Paulo, Gilson Schwartz, não escuta As Quatro Estações, de Vivaldi, ou o hino de algum clube de futebol. O que ecoa em seu telefone é um canto dos índios Xavantes, de Mato Grosso. Coordenador da Cidade do Conhecimento da Universidade de São Paulo (USP), Schwartz desenvolve o projeto Cidade Móvel que, com a produção e venda de ringtones (toques de telefone) e wallpapers (papéis de parede para cobrir o visor) para celulares, gera renda e inclusão digital em comunidades carentes e indígenas e promove o desenvolvimento de programas ambientais.


O Cidade Móvel surgiu em 2005, com um convênio entre a USP, Casa Civil da Presidência da República e Instituto Nacional de Tecnologia de Informação. O objetivo era promover, em conjunto, a certificação digital e a inclusão social. Com 100 milhões de celulares no mercado brasileiro, Schwartz não teve dúvidas, este seria o melhor meio de gerar renda: "O mundo da computação contemporânea é o mundo da mobilidade e da ubiqüidade. E, enquanto na internet quase tudo é de graça, no celular praticamente tudo é pago", diz.

Para implantar o projeto, Schwartz envolveu-se com ONGs e comunidades em três regiões do Brasil: Centro-Oeste, Nordeste e Norte. É do Mato Grosso que vem o ringtone do professor, onde foi realizada a primeira parte do programa, na Aldeia de São Pedro, com os índios Xavantes. Essa expedição seguiu os passos do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, pesquisador da aldeia indígena. No Nordeste, o local escolhido foi a Praia da Pipa, em Natal, por ser uma região de turismo não sustentável. E, no Norte do país, a ONG Navegar Amazônia foi contemplada.

Fundada em 2000 pelo cineasta Jorge Bodanzky e pelo programador de sistemas José Roberto Lacerda, a ONG Navegar Amazônia tem uma sede inusitada: um barco multimídia equipado com computadores, câmeras digitais, antena móvel de transmissão, tenda de circo e tela de cinema, que navega pelos rios da Amazônia levando ideais de cultura, tecnologia e desenvolvimento sustentável. "A gente trabalha para que as comunidades ribeirinhas se apropriem dessas tecnologias e transformem o seu olhar em produtos multimídia digitais", explica José Roberto Lacerda.

A parceria entre USP e Navegar Amazônia vai além da produção de wallpapers e ringtones, e ultrapassa até mesmo o plano do real. Agora, a nova iniciativa é a inclusão da Ong no Second Life, programa de realidade virtual. Bodanzky diz que o ingresso nessenovo mundo é importante para a que a Ong ganhe maior visibilidade: "Entramos no Second Life porque nosso projeto é multimídia. A idéia é fazer o barco virtual do Navegarrefletir o barco real, criando atividades nos dois pólos e em vários lugares".

Em 2006, o Cidade Móvel foi vencedor do Development Gateway Award (Prêmio Passagem e Desenvolvimento), realizado pelo Banco Mundial que premiou as iniciativas que favoreciam a inclusão digital da juventude. Agora, Schwartz prepara-se para ampliar ainda mais o programa, exportando os wallpapers e ringtones. "Eu estou indo para China e Japão, vou levar esses catálogos. Será que em Xangai um canto Xavante não faz sucesso?'.

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